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Donald Trump |
Desde o início da crise diplomática, o que se desenha entre Brasil e Estados Unidos vai além de um impasse econômico — trata-se, na essência, de uma disputa política. A escalada ganhou um novo capítulo com a decisão do governo norte-americano de aplicar a Lei Magnitsky para sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. O gesto envia um recado claro: a promessa de Donald Trump de anunciar sanções econômicas contra o Brasil até a próxima sexta-feira, 1º de agosto, não parece ser um blefe.
Em suas redes sociais, Trump publicou em letras garrafais um apelo para que a “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro seja encerrada “IMEDIATAMENTE”. Mais que uma declaração, a mensagem soou como um ultimato — algo inadmissível quando dirigido a um país soberano, com instituições autônomas e um sistema legal próprio.
A postura do ex-presidente dos Estados Unidos sinaliza que, desta vez, ele pretende romper com o estigma de “TACO” — apelido que o acompanha por supostamente voltar atrás em ameaças e decisões mais duras. Ao que tudo indica, ele deseja provar que não recuará, mesmo que isso signifique impor sérios prejuízos ao Brasil.
Com essa estratégia, Trump tenta se desvencilhar da imagem de líder vacilante, buscando reafirmar autoridade mesmo ao custo de romper com mais de dois séculos de relações diplomáticas entre as duas nações. Ignora, nesse caminho, os impactos que medidas como uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros podem ter, tanto para a economia nacional quanto para o consumidor médio norte-americano, que poderá sentir o aumento nos preços de produtos como suco de laranja e café.
A motivação por trás do gesto também tem raízes internas: a influência do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem utilizado seu mandato para sustentar uma narrativa internacional em defesa do pai. Eduardo, cujo foco parece estar exclusivamente na proteção da própria família, atua sem considerar as consequências mais amplas de seus atos — que atingem não apenas o Brasil, mas também afetam o bolso do consumidor norte-americano. A gravidade da situação exige, segundo críticos, uma resposta firme e proporcional.
O gesto de Trump, ao adotar um discurso de enfrentamento e tentar colocar o Brasil contra a parede, deixa evidente sua disposição de pressionar economicamente o país sob o pretexto de defender a democracia — uma ironia, considerando que repete declarações que ecoam o discurso de Eduardo Bolsonaro, político que tenta evitar a responsabilização do pai por cinco crimes graves, incluindo tentativa de golpe de Estado.
Por fim, ao ameaçar a estabilidade econômica do Brasil e lançar dúvidas sobre a solidez do bloco dos BRICS, Trump parece encontrar na crise uma oportunidade de enfraquecer alianças estratégicas. No entanto, ao agir dessa forma, subestima a posição do governo brasileiro. Caso tenha realmente lido o New York Times nesta terça-feira, compreendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está disposto a ceder a pressões nem a chantagens, por mais ruidosas que sejam.