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O Impacto da Inelegibilidade de Bolsonaro para 2026

25_09

/ Por Redação
Ex-presidente Jair Bolsonaro

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) dará início, na manhã desta terça-feira (2), ao julgamento da Ação Penal 2668, que investiga a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de aliados em uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Atualmente em prisão domiciliar, Bolsonaro responde a cinco acusações no Supremo: organização criminosa armada, tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e ameaça grave, além de deterioração de patrimônio tombado. Caso seja condenado, a pena pode ultrapassar 40 anos de prisão — embora a execução dependa do trânsito em julgado.

Com pouco mais de um ano para as eleições de 2026, especialistas ouvidos pela CNN analisam os possíveis impactos desse processo para o cenário político nacional.

Inelegibilidade pode ser estendida

Mesmo já considerado inelegível até 2030 por decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e cumprindo prisão domiciliar, Bolsonaro insiste em se apresentar como pré-candidato à Presidência. A ideia é respaldada por Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

Segundo Antonio Carlos de Freitas Júnior, doutor em Direito Constitucional pela USP, a chance de reversão desse quadro é mínima. Pelo contrário: uma condenação no STF pode ampliar o período de inelegibilidade.

“A condenação criminal transitada em julgado — quando não há mais possibilidade de recurso — provoca a perda dos direitos políticos, conforme prevê a Constituição. Nesse caso, o cidadão não pode votar nem ser votado enquanto durar a pena. Isso significaria que Bolsonaro permaneceria inelegível até o fim do cumprimento da sentença”, afirma.

Para mudar esse cenário, explica o especialista, seria necessário reverter as decisões do TSE no STF — referentes à reunião com embaixadores e aos discursos de 7 de setembro de 2022 — e, em caso de condenação, conseguir que o próprio Supremo revogue a decisão criminal.

O dilema do Centrão

De acordo com o cientista político Eduardo Grin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, a insistência de Bolsonaro em manter-se como pré-candidato também serve para resguardar sua influência dentro da direita.

“Ele se projeta como o líder do campo conservador, alguém capaz de estabelecer conexões internacionais, aproximando Trump, Erdogan e Orbán. Se abrir mão dessa posição, corre o risco de perder espaço e ver seus apoiadores migrarem para outra liderança”, avalia Grin.

O professor lembra ainda que o apoio de Bolsonaro pode ser decisivo em um eventual embate contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O problema está no cálculo político do Centrão.

“O Centrão já entendeu que Bolsonaro está fora da disputa, mas ainda precisa dos seus eleitores. Se a economia tiver dificuldades e o governo perder popularidade, eles podem avaliar que o custo de estar ao lado de Bolsonaro compensa. Caso contrário, o preço de apoiá-lo pode ser considerado alto demais”, observa.

Na visão de Grin, o bolsonarismo tende a chegar a 2026 mais isolado e enfraquecido do que em 2022. “Boa parte dos eleitores que o apoiaram não está vinculada à extrema direita, e esse afastamento deve se acentuar”, conclui.

Quem pode herdar o capital político de Bolsonaro?

Para o pesquisador da FGV Leonardo Paz Neves, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta como o sucessor natural de Bolsonaro.

“Tudo indica que seja Tarcísio. Ele tem conseguido manter bom desempenho, apesar de crises na gestão, e recebe apoio de grupos influentes. Ainda não está claro, no entanto, se ele é a figura que melhor representa o eleitorado bolsonarista”, analisa.

Na avaliação de Paz Neves, o ex-presidente deveria começar a preparar a transição de liderança, escolhendo e fortalecendo um sucessor.

“Num cálculo racional, ele deveria apoiar alguém desde já, dar tempo para essa pessoa se consolidar, como Lula acabou não fazendo em 2018 ao insistir em sua candidatura mesmo preso”, lembra.

Naquele ano, Lula permaneceu como pré-candidato até setembro, quando o TSE rejeitou o registro por 6 votos a 1. Apenas a um mês do primeiro turno, Fernando Haddad foi oficializado candidato do PT.

Ainda assim, Paz Neves vê pouca disposição de Bolsonaro para abrir mão do protagonismo: “Líderes carismáticos tendem a resistir em deixar o centro da cena política. Lula fez isso em 2018, e Bolsonaro parece seguir o mesmo caminho. A probabilidade de ele realmente passar o bastão é baixa diante de seu perfil”.

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