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A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, agravada pela recente “guerra tarifária”, acendeu um sinal de alerta nos altos escalões das Forças Armadas. De acordo com reportagem publicada neste domingo (22/07) pelo site DefesaNet, o ambiente entre generais, almirantes e brigadeiros é de inquietação generalizada. O temor? Que um possível rompimento nas relações com os norte-americanos provoque um colapso logístico e operacional em toda a estrutura de defesa do país.
Os militares afirmam que, sem o apoio tecnológico vindo dos Estados Unidos, o Brasil pode perder sua capacidade de resposta em cenários estratégicos — situação que já está sendo chamada nos bastidores de “apagão militar”. A advertência não é nova: remonta aos dias que sucederam os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando parte do Alto Comando chegou a flertar com a adesão ao levante. No entanto, a interferência direta do governo Joe Biden, por meio de emissários como Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, e Juan González, assessor especial para a América Latina, teria sido fundamental para o recuo das tropas. O recado era claro: Washington confiava na neutralidade das Forças Armadas brasileiras, mas acompanhava os desdobramentos com preocupação.
A escalada atual, no entanto, tem outro foco. O receio, segundo o site, é que novas sanções — especialmente se o cenário político nos EUA voltar a ser comandado por Donald Trump — afetem diretamente áreas sensíveis do setor militar brasileiro, que depende fortemente de equipamentos, peças e suporte técnico dos norte-americanos. Radares, caças, navios, sistemas criptografados e até munições são citados como vulneráveis em caso de interrupção nos acordos bilaterais.
Alto Comando alerta sobre fragilidade e cobra realinhamento diplomático
Diante do que consideram uma ameaça iminente, os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica têm intensificado a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exigência é clara: uma postura mais pragmática e menos ideológica na condução das relações com os Estados Unidos. As falas, carregadas de dramatização, evocam riscos como “cegueira tecnológica” e “surdez operacional”, e deixam explícita a insatisfação dos militares com o que chamam de lentidão diplomática.
Fontes do Ministério da Defesa citadas pelo DefesaNet relatam um cenário crítico: muitos dos equipamentos em operação estão defasados ou à beira da obsolescência. A Força Aérea, por exemplo, ainda mantém em atividade aeronaves F-5, com mais de 50 anos de uso, enquanto os estoques de munição estariam em níveis alarmantes. No Exército, blindados Leopard 1 A5, cuja aposentadoria já deveria ter ocorrido, continuam sendo utilizados por absoluta falta de alternativas viáveis — os novos veículos prometidos ainda não chegaram.
Já a Marinha enfrenta obstáculos semelhantes: o projeto das fragatas Tamandaré segue inacabado, e várias embarcações estão fora de operação. Há inclusive relatos de escassez de munição para os armamentos em funcionamento. Um corte no fornecimento de peças e assistência técnica dos EUA poderia travar de forma irreversível o funcionamento da frota naval brasileira, alertam os oficiais.
Militares usam cenário de crise para reivindicar mais investimentos
A pressão dos quartéis sobre o Palácio do Planalto não se limita ao campo diplomático. Paralelamente, o ministro da Defesa, José Múcio, tem levado os comandantes militares a almoços com Lula, numa tentativa de sensibilizá-lo sobre a necessidade de mais recursos para a pasta. O pleito gira em torno de um investimento equivalente a 2% do PIB — algo incompatível com o atual cenário de ajuste fiscal, que prevê apenas 1,8% para despesas discricionárias em 2026, segundo a GloboNews.Exercito Brasileiro | Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
A insistência por mais verbas, em um momento de forte contenção de gastos, soa descolada da realidade. Ainda que o reaparelhamento das Forças Armadas seja uma pauta legítima, o desequilíbrio orçamentário torna inviável atender a esse tipo de demanda de forma emergencial. O que chama atenção é o tom alarmista com que as reivindicações têm sido feitas — muitas vezes, em sintonia com discursos que flertam com o oportunismo político.
Críticas à má gestão do passado e dúvidas sobre motivações atuais
O cenário atual de precariedade, dizem analistas, não surgiu repentinamente. Questiona-se por que, durante o governo anterior — marcado pela forte presença de militares em cargos civis e pela alardeada proximidade com os quartéis —, não foram tomadas medidas para prevenir o colapso que agora se anuncia. Enquanto recursos públicos eram canalizados para compras polêmicas, como próteses penianas, leite condensado e cloroquina, pouco se avançou em termos de modernização das Forças Armadas.
O uso político da crise fica ainda mais evidente ao se observar o tom empregado na própria manchete da reportagem do DefesaNet: “PACIÊNCIA ZERO! MILITARES PRESSIONAM LULA POR TENSÃO COM OS EUA! FALTA DE PRIORIZAR NOSSAS INDUSTRIA”. O estilo sensacionalista levanta dúvidas sobre o real interesse por trás das cobranças.
Coincidentemente, a publicação da matéria ocorreu no mesmo dia em que ganhou destaque a discussão sobre a possível instalação de tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro, situação que provocou especulações sobre uma eventual prisão — embora essa hipótese, diante da decisão do ministro Alexandre de Moraes, tenha se mostrado remota. A coincidência temporal alimenta suspeitas de que as Forças Armadas estariam tentando interferir politicamente, sob a fachada de preocupações técnicas.
Entre a precaução e a estratégia: o que está em jogo
É legítima a preocupação com a segurança nacional e com a autonomia tecnológica do país. Mas é preciso cautela para que essas pautas não sejam instrumentalizadas em meio a uma conjuntura tensa, na qual os interesses militares parecem, em parte, sobrepostos por disputas políticas e tentativas de barganha orçamentária.
A retórica do caos, nesse contexto, pode ser mais perigosa do que o próprio colapso que se deseja evitar. Afinal, o Brasil precisa de Forças Armadas modernas e bem equipadas — mas também alinhadas com os princípios democráticos e com a estabilidade institucional do país.