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Análise: O Jogo de Poder em Alagoas e o Tabuleiro para 2026

25_06

/ Por Redação
    Marcelo Victor e Paulo Dantas | Foto: Reprodução   

A declaração do governador Paulo Dantas, afirmando não ter poder de veto sobre nenhum candidato de seu grupo político para 2026 — citando nominalmente Arthur Lira e JHC —, soa como um aceno à "política com maturidade". Contudo, por trás da retórica, revela-se um complexo xadrez de interesses, poder e sobrevivência que define os rumos da sucessão estadual em Alagoas.

A Ironia Calheirista e a Estratégia dos Acenos

A fala de Dantas carrega uma fina ironia, especialmente ao incluir Lira. O gesto contrasta com a estratégia do líder de seu grupo, o senador Renan Calheiros, que faz acenos públicos ao prefeito de Maceió, JHC, e à família Caldas, mas mantém um silêncio calculado em relação a Arthur Lira — uma postura espelhada pelo próprio deputado federal. A questão que paira no ar é: se uma aliança com JHC é cogitada, por que o mesmo não se aplicaria a Lira?

A resposta parece estar na coesão do "calheirismo". Embora com interesses diversos, o grupo não está rachado. O senador Renan Calheiros já demonstrou capacidade de lançar o filho, Renan Filho, ao governo mesmo com o ministro relutante. Essa preferência é ecoada por figuras-chave como o próprio governador Paulo Dantas e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor. No entanto, o desejo pessoal de Renan Filho parece ser outro: permanecer em Brasília, à frente do estratégico Ministério dos Transportes, uma pasta com autonomia total entregue por Lula ao grupo Calheiros.

Nesse vácuo, nomes alternativos são ventilados, como o do deputado Isnaldo Bulhões, que já se apressou em declarar que não tem intenção de disputar o governo. Contudo, na política, declarações são fluidas e podem mudar com a oferta de apoios consistentes e a promessa de votos.

O Eixo de Poder: Dantas, Victor e a Máquina Estadual

O fator decisivo neste cenário é o poder consolidado pelo eixo formado por Paulo Dantas e Marcelo Victor. Eles podem ter pouca influência no diretório do MDB, mas controlam o governo de Alagoas. Marcelo Victor, como chefe da Assembleia Legislativa, detém um poder imenso, traduzido na indicação de secretários para pastas cruciais como Saúde, Fazenda e Segurança Pública. Em outras palavras, ele tem acesso ao cofre e ao controle das duas áreas com maior capilaridade nos municípios, o que se converte diretamente em apoio político e votos.

Foi essa máquina que garantiu a eleição e a reeleição de Paulo Dantas. Apoiar um nome de fora, seja JHC ou Isnaldo Bulhões, significaria para este eixo ceder poder, prestígio e o controle sobre um orçamento legislativo que se aproxima de R$ 1 bilhão.

Além do controle administrativo, Dantas e Victor comandam partidos como o PSB e o PSD, que, somados a uma maioria quase absoluta na Assembleia, garantem um tempo de TV e rádio crucial nas eleições do próximo ano. Qualquer candidato que se lance ao governo sem o apoio da maioria dos deputados estaduais enfrentará um caminho árduo para viabilizar sua campanha.

O Pirão Primeiro

O cenário político em Alagoas é volátil e os discursos podem mudar ao sabor das conveniências. No entanto, a lógica do poder é imutável. A fala de Paulo Dantas sobre "não vetar ninguém" pode ser uma formalidade diplomática, mas a realidade é que o grupo que hoje comanda o Palácio República dos Palmares e a Assembleia Legislativa não parece disposto a abrir mão do poder que acumulou.

Como diz o ditado popular, quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro. E, no jogo político alagoano, ninguém parece disposto a aceitar menos do que o prato principal.

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