Uma declaração do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) causou grande repercussão no governo federal e no mercado financeiro, após o ministro afirmar, em entrevista publicada na sexta-feira (7) ao portal alemão DW, que o governo estava considerando um reajuste no valor do Bolsa Família em resposta ao aumento da inflação dos alimentos. A fala gerou estresse no Planalto e levou a uma reação imediata da Casa Civil e do presidente Lula, que pediu explicações ao ministro.
Durante a entrevista, Dias foi questionado sobre o impacto da inflação nos beneficiários do programa e se o governo pensava em aumentar o benefício. Ele respondeu afirmativamente, dizendo: “Está na mesa. A decisão vai ser tomada até o final de março”, sugerindo que um reajuste poderia ser considerado. A declaração gerou um aumento no dólar e uma queda na Bolsa de Valores, o que fez a Casa Civil desmentir a fala do ministro em uma nota oficial logo em seguida.
Casa Civil Desmente Reajuste
A Casa Civil emitiu uma nota imediatamente após a entrevista, afirmando que “não existe estudo no governo sobre aumento do valor do benefício do Bolsa Família” e que “esse tema não está na pauta do governo e não será discutido”. A afirmação foi acompanhada por um telefonema do presidente Lula ao ministro Wellington Dias, que ficou irritado com a repercussão negativa.
De acordo com informações de aliados, o ministro explicou ao presidente que sua intenção era apenas comunicar que o ministério estava realizando um estudo sobre o impacto da inflação nos beneficiários do Bolsa Família e que discutiria formas de compensar os efeitos dessa alta. Para esclarecer a situação, Dias enviou ao gabinete presidencial a íntegra da gravação da entrevista.
Reações no Governo e Mercado
A declaração do ministro pegou de surpresa os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa, que estavam alheios à possibilidade de reajuste. O impacto de um aumento do Bolsa Família sobre as contas públicas, especialmente em um momento de pressão para cortar gastos, preocupou membros do governo.
Dentro do Planalto, a fala de Dias foi vista como um erro, principalmente considerando que o governo busca manter uma imagem de austeridade fiscal. O incidente também incomodou aliados de Lula, que estavam focados em uma agenda positiva naquele dia, com o presidente liderando inaugurações em sua viagem pela Bahia.
Nota de Esclarecimento e Crise Ministerial
Poucas horas após o desmentido da Casa Civil, Wellington Dias divulgou uma nota conjunta com a Secretaria de Comunicação Social (Secom), onde reafirmou que não há nenhum estudo em andamento para o aumento do Bolsa Família, nem uma agenda marcada para discutir esse tema.
No Planalto, a situação colocou o ministro em uma posição delicada, especialmente com a reforma ministerial em curso. A pasta do Desenvolvimento e Assistência Social, com orçamento de R$ 291 bilhões, é considerada estratégica para o PT e alvo de interesse de partidos de centro no Congresso. Contudo, o governo resiste a entregar a pasta a qualquer figura fora do partido, especialmente por conta da importância do Bolsa Família nas políticas de assistência social.
Alianças e Futuro do Ministro
Apesar da tensão causada pela declaração, aliados do ministro afirmam que Wellington Dias e o presidente Lula já se reuniram diversas vezes em 2025 para alinhar as metas e ações de sua gestão até 2026. Esses encontros sugerem que o presidente ainda confia no ministro para conduzir a pasta até o final de seu mandato. Contudo, não há previsão de novos encontros entre Lula e Dias nos próximos dias.
O ministro embarca neste domingo (10) para Roma, onde participará da 48ª Sessão do Conselho de Governança do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), acompanhado pela primeira-dama Janja da Silva. Eles devem retornar ao Brasil na quarta-feira (13), com novas agendas previstas para o ministro em viagens pelo país, relacionadas aos programas Bolsa Família e Acredita.
Por enquanto, o episódio deixa uma marca na relação entre o ministro e outros membros do governo, e sua posição à frente da pasta pode ser revista, dependendo dos desdobramentos das discussões internas e das necessidades políticas do governo.